quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Nobel/Literatura: Le Clézio é "um grande escritor da actualidade" - especialista de Coimbra

Coimbra, 09 Out (Lusa) - A vice-reitora da Universidade de Coimbra Cristina Robalo Cordeiro, especialista em Literatura Francesa, congratulou-se hoje com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Jean-Marie Gustave Le Clézio, que define com "um grande escritor da actualidade".

"Fico muito satisfeita por ter sido escolhido um francês. Conheço pessoalmente Le Clézio, um escritor de língua francesa que é também filósofo e pensador", declarou à agência Lusa Cristina Robalo Cordeiro.

Ao ser contactada esta tarde para comentar a decisão da Academia Sueca, a catedrática, que se encontra em Marrocos em representação da Universidade de Coimbra, não tinha ainda conhecimento da distinção de Jean-Marie Gustave Le Clézio, sobre o qual tem vários estudos publicados.

"Le Clézio é um escritor discreto, não muito mediático. Um homem que escreve uma literatura francesa de grande qualidade", acrescentou.

Para Cristina Robalo Cordeiro, o Prémio Nobel da Literatura de 2008 "é um homem de ideias e de ideais", que escreve livros "para pensar e levar as pessoas a pensar".

"É um escritor clássico, com uma escrita rigorosa", sublinhou.

Jean-Marie Gustave Le Clézio, distinguido este ano com o Prémio Nobel da Literatura, escreveu o seu primeiro livro aos sete anos, durante uma travessia marítima rumo à Nigéria.

A sua literatura confunde-se com as viagens, que não cessou de empreender. Ganhou a admiração de filósofos como Michel Foucault e Gilles Deleuze, que apreciaram a sua escrita inovadora e revoltada.

Filho de um cirurgião britânico e de uma francesa da Bretanha, nasceu em Nice, sul da França, em 13 de Abril de 1940.

Formado em Letras, trabalhou na Universidade de Bristol e de Londres, em Inglaterra, dedicando uma tese ao poeta Henri Michaux, também ele um viajante.

Com 23 anos, ganha o Prémio Renaudot, um importante galardão francês, por um ensaio que ainda hoje é considerado magistral, "Le procès-verbal".

A sua obra, que compreende contos, romances, ensaios, novelas, traduções de mitologia ameríndia, numerosos prefácios e artigos, é considerada como crítica do Ocidente materialista e uma atenção constante aos mais fracos e aos excluídos.

Numa sondagem, realizada em 1994 pela revista francesa Lire, foi considerado como o "maior escritor vivo da língua francesa".

"O Processo de Adão Pollo", "O caçador de tesouros", "Deserto" (considerado a sua obra-prima), "Estrela errante", "Diego e Frida" e "Índio branco" são os livros de Le Clézio traduzidos em Portugal, cuja obra ultrapassa os 50 títulos.

CSS/CMJ.
Lusa/Fim

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Moderação de comentários

Infelizmente há más pessoas neste mundo virtual! Por questões de ética e de educação, activei o sistema de moderação de comentários! Espero que não levem a mal, mas é a melhor forma para ignorarmos pessoas indesejadas!
A todos um resto de boa semana! E não se esqueçam do Euromilhões! ehehehhe

Beijos e abraços.

Cronos

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vontades da estação


Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,E será como esta [...]
Fernando Pessoa

Amarelos dominam


Árvores despidas

Chegou o Outono. Numa altura em que as alterações climáticas parecem querer fazer das suas, o Outono parece que veio com toda a pujança. Sempre achei que nós, por cá, nunca conseguíamos sentir as estações do ano na íntegra. Como por brincadeira costumo dizer, basta darmos uma volta pela Ilha e facilmente encontramos as quatro estações de uma vez só. Mas é sempre bom saber que psicologicamente já chegou o Outono. As folhas ainda não começaram cair, mas já a natureza se prepara para concluir um ciclo e dar início a outro. E nós? Como nos comportamos no Outono? Será que ficamos mais tristes? Será que nos tornamos mais escuros? Ou despidos de imaginação, de ideias e de boa disposição? Apetece-me dizer que só sei que nada sei... a não ser que chegou o Outono.

Cronos, marcando o tempo...

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Um pitada de regionalismo

Aos cativos

Vós outros, que sois cativos,
Grilos dentro de gaiola;
Aves, que andastes à solta,
E vos prenderam à argola;
Peixes nalguma redoma,
Muito mais mortos que vivos, -
Ouvi:
Maior prisão é cá dentro.


Vós outros, que sois cativos,
Com ferrolhos pelas portas,
E chaves de muitas voltas,
Medonhas grades por fora,E luz, por dentro, tão pouca,
E antes mortos do que vivos, -
Ouvi:
Preso está quem anda à solta.

Mas seja assim, muito embora,
Vós outros, que sois cativos,
Minh’ alma não vos ignora
Nesta prisão de aqui fora,
Onde é noite a toda a hora,
E, condenados, os vivos
Parecem mortos agora; -
Ouvi:
O tempo tudo melhora.

Cabral do Nascimento

Secreções de uma inteligência

"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes - brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias - que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções."
Bernardo Soares