sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Um pitada de regionalismo

Aos cativos

Vós outros, que sois cativos,
Grilos dentro de gaiola;
Aves, que andastes à solta,
E vos prenderam à argola;
Peixes nalguma redoma,
Muito mais mortos que vivos, -
Ouvi:
Maior prisão é cá dentro.


Vós outros, que sois cativos,
Com ferrolhos pelas portas,
E chaves de muitas voltas,
Medonhas grades por fora,E luz, por dentro, tão pouca,
E antes mortos do que vivos, -
Ouvi:
Preso está quem anda à solta.

Mas seja assim, muito embora,
Vós outros, que sois cativos,
Minh’ alma não vos ignora
Nesta prisão de aqui fora,
Onde é noite a toda a hora,
E, condenados, os vivos
Parecem mortos agora; -
Ouvi:
O tempo tudo melhora.

Cabral do Nascimento

Secreções de uma inteligência

"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes - brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias - que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções."
Bernardo Soares

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Qual inerte... me deixo levar...

A inércia tomou conta de mim. Deixei que, por momentos, ela me agarrasse e me levasse a passear com a lassidão da pouca vontade para trabalhar. Ainda assim, tenho de aqui estar, sem qualquer argumento que não seja o receber um salário no final do mês. Por que razão não sou rico?
Cronos

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Amnistia lança desafio


A Amnistia Internacional aproveitou os Jogos Olímpicos para lançar uma campanha contra os atendados à humanidade feitos pelas autoridades chinesas.

As imagens valem mais do que 1000 palavras.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Apenas alguns momentos...

(fotos and make off by Cronos)

Simplicidade das coisas

Sabe bem apreciar um belo pôr-do-sol. Sabe bem apreciar o esvoaçar de uma borboleta. Sabe bem ouvir os chilrear de um pássaro. Sabe bem sentir o vento a nos enregelar a face quando estamos bem agasalhados. Sabe bem olhar as nuvens do alto e vê-las desenhar formas que só nós vemos ao sabor da aragem que passa. Sabe bem apreciar as belezas singelas de uma flor. Seja Verão, seja Inverno, há coisas que simplesmente sabem bem.



Por mais que as tentemos descrever, penso que há-de faltar sempre uma pincelada de sentimento, um toque de quase magia para que consigamos fazer com que os outros sintam, vejam, ouçam ou toquem aquilo que sentimos, vimos, ouvimos ou tocámos. É esta a subtileza dos nossos sentimentos, é esta a estranheza do ser humano que a cada dia que passa desencanta forma de encantar os demais.É bom sentir simplesmente o mundo que nos rodeia...
Cronos

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Há dias assim...

Há dias em que não sabemos nada de nada. Não sabemos o que comer pela manhã. Não sabemos que roupa vestir (esta parte é mais conversa de "gaja"), não sabemos o que nos espera no trabalho, não sabemos a que horas vamos sair. Não sabemos nada. Apenas sabemos que o sol nasceu e que é preciso fazermos algo, mais não seja ficarmos na cama a dormir. Este é uma sensação de inércia e de incapacidade para fazermos algo mais por nós mesmos. Falta-nos a determinação para dar um passo em frente (ou atrás, por vezes é necessário). Resta-nos esperar por dias melhores e acreditar que tudo vai melhorar...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Desculpem-me

Caros,

Desculpem pelo post enorme que vai logo abiaxo, mas acho que estava muito bem escrito... e vale a pena ler tudo.

Bom dia,

Cronos

Uma crónica até comovente...

Se ao menos a gente pudesse viver com as coisas mais simples em vez de recordar as complicadas. Voltar à pobreza do elementar: luz, água, pedra. O avô de alguém que me é querido dizia de uma pessoa boa É bom como o pão e ao lado disto que maior elogio se pode fazer? A nossa língua torna-se maravilhosa com palavras como estas É bom como o pão e lembro-me das mulheres que beijavam o pão duro antes de o deitar fora, da minha avó que se horrorizava ao ver um pão ao contrário: punha-o logo direito a pedir desculpa em silêncio, movendo a boca. Sempre me senti bem nas padarias: o cheiro, o lume, os padeiros enfarinhados que eu achava, acho ainda, serem anjos que se transviaram, de braços cobertos por uma poeira celeste. Tudo neles era branco até as sobrancelhas, as pestanas. O olhar branco também. Os gestos. Não olhos cegos, olhos brancos. E eu à porta a espantar-me. O eco das vozes nos tijolos, dos passos, da lenha no forno. Bom como o pão: ora toma, António. Aprende a escrever à maneira. O facto é que me interessa muito mais um padeiro que um economista. Ou um gestor.
Criaturas que, não sei porquê, me dão pena: economistas, gestores, administradores, directores, banqueiros. Deve ser triste ganhar dinheiro assim. O que sonhará um economista, a que brincava um gestor em criança? Ou nasceram já crescidos? Imagino-os debaixo do chuveiro, de gravata, a falar ao telemóvel. E sabe-se que são velhos não pelo aspecto mas porque quando contam que arranjaram uma secretária boa se referem a um móvel. O que sonhará um economista posso imaginar mais ou menos, agora o que sonha a mulher de um economista é que me preocupa. Se eu fosse mulher de um economista sonhava com canalizadores ou mecânicos de automóvel, homens que usam as mãos e não lêem revistas de golfe nos domingos de chuva. Estou a brincar. Não conheço nenhum economista, aliás. Se conhecesse abria-lhe logo a tampa a fim de espiar o que traz na barriga: cartões de crédito, canetas caras, camisas por medida? Sempre andei mal enjorcado, eu, para desespero da minha mãe:
Andas tão mal enjorcado, filho.
Todos os anos a minha companhia lá da guerra faz um almoço com os que sobejam da miséria em que andámos. Não neste último almoço, no penúltimo, o furriel Firmino Alves começou a anotar os telemóveis dos nossos camaradas para os contactos da refeição seguinte, até que chegou ao Pontinha. Pontinha é a alcunha do ordenança da messe de oficiais, que morava na Pontinha. Como a cabeça dele era grande (continua a ser grande) chamavam-lhe também Porta-aviões porque dava para os aviões aterrarem.
O Pontinha, como muitos dos soldados, vive com dificuldades. Ao fim-de-semana engraxa sapatos na mira de equilibrar o orçamento. Gosto muito do Pontinha a quem obrigava a cortar a carne em bocados de dois por três centímetros, por haver decidido ser a capacidade da minha boca. Media aquilo e exigia Quatro milímetros a mais, Pontinha, corta outra vez e o Pontinha, que remédio, cortava. Ainda hoje, nesses almoços, me quer cortar a carne. Falar nos meus camaradas comove-me: a expressão irmãos de armas é tão verdade. Enquanto nos aguentarmos por cá. Mesmo depois. Zé Jorge: continuamos irmãos de armas. Cabo Sota: admiro a tua coragem até ao fundo da alma. Sozinho com a Breda, uma metralhadorazeca, aguentou um ataque.
E vive mal, percebem? Como se deixa viver mal um herói? Ao acompanhá-lo ao táxi em que voltava, doente, ao Alentejo, avisei o condutor:
Você leva aí um grande homem, sabia, um dos maiores homens que conheço e, como todos os grandes homens da guerra, de uma infinita modéstia, bondoso e sereno. Não lhe chego aos calcanhares. Cabo Sota, tu mereces a continência de um general. O Zé Luís, oficial de operações especiais, que em matéria de coragem não necessitava de aprender com ninguém:
Eram duros
expressão que constitui para nós o supremo elogio. Adiante. Contava eu que o furriel Firmino Alves anotava os telemóveis até que chegou ao Pontinha e como fizera com os outros perguntou:
Tens um telemóvel, Pontinha?
e o Pontinha logo, a mostrar serviço:
Não, mas a minha mulher tem um microondas não fosse a gente pensar que ele era um badameco qualquer. Pode parecer esquisito ou parvo ou o que quiserem, mas quem cortava a minha carne era um magnata cuja mulher tem um microondas, e aí está o melhor título de nobreza (aliás o único) que possuo. Este ano o Pontinha, depois de me desdobrar o guardanapo (se eu o desdobrasse ele ofendia-se) olhou-me bem nos olhos e declarou:
Se quiser vou para sua casa, faço-lhe o comer, dou-lho e não levo um tostão por isso e eu todo arrepiadinho de ternura. Boaventura, Nini, Licínio, vocês todos caramba como a gente somos irmãos. Unamuno, que muito respeito, tem páginas admiráveis acerca da valentia dos portugueses. Tens razão, Zé Luís: eram duros. Ganas de explicar às mulheres deles, aos filhos deles, o orgulho que tenho em ser amigo dos pais, em que os pais sejam meus amigos. Não: irmãos de armas. Não: irmãos. E bons como o pão. Ao lado disto que maior elogio se pode fazer? Ao menos que o País os beije antes de os deitar fora e lhes peça desculpa. E há mais anjos para além dos padeiros, de arma nas unhas mata fora. Nenhum deles é banqueiro, claro. Nem administrador. Nenhum deles joga golfe. Jogaram golfe num campo de um só buraco onde não é a bola que cai.
É um rapaz de vinte anos. E acabo aqui, antes que seja tarde para marcar o número de um microondas.

António Lobo Antunes, Visão, 25 de Junho 2008

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Não é bem dormir na forma...

Meus caros, pois é. Atirei pedras ao telhado do meu vizinho e esqueci-me que tenho telhas de vidro. ahahahah Tenho andado com trabalho até à ponta do cabelo mais comprido. Quase nem respir... ehehehe Mas prometo que assim que a coisa melhorar, vou postar aqui umas coisinhas
Fiquem bem... beijos e abraços

Cronos